sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

JÓIA

Toda vez que Elena olha para o céu noturno lembra-se daquele sorriso e das fotos que lhe eram enviadas todos os dias a  dizer, “olha o céu!”, e ela responderia, “tão lindo”. Porque o céu era amado e ela amava esse olhar apaixonado pelas estrelas.

Não importava o quanto ficava para baixo, sempre se levantava, porque todos aqueles movimentos gritavam sinceridade, não os dela, mas os da Jóia. No fim ela pensou: O “nós” morreu quando passaste a omitir os teus sentimentos, e foi assim que a Jóia se perdeu.

Disse-lhe que era uma fase, que não falava das coisas com sentido, e ela respondeu que foi o medo e a covardia que os separou e criou a distância. Agora, ela não tem mais coragem de ver o céu lindo que a noite traz, porque sente que perdeu a sua Jóia falante, mas na verdade foi ela que a deixou.

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

PÓ.

Como a cabeça bate em pedra, o vento bate em rocha, até que se esfarele em areia da mesma forma que a água faz.

Bate e bate, até que se molde, até que ao último sopro tudo se resolve. É assim que as coisas funcionam. Ao menos é o que acreditam.

    - E então, aqueles que não batem com a cabeça em pedra, que não fazem o vento soprar forte, nem agitam a água para que tudo se molde, como é que eles fazem?

    - Não fazem.

Balbucia um dos seres que faz o vento soprar até que se faça forma na massa mais dura e resistente da praia.

    - Como tens tanta certeza? - Eu disse.

    - É óbvio, não podes fazer nada da tua vida se não bateres na pedra. Simples. Como é que vais sair deste lugar sem o fazer?

Sim, por estar mais tempo do que eu nesta praia, acredita que a conhece melhor. Não entendem nada.

    - Bom, se bateres com muita força na pedra tenho certeza que se não for isso a virar pó, tu vais, com certeza.

    - Sim, porque tu sabes bem melhor do que eu. Eu que trabalho e sopro o vento tão forte o possível para conseguir trazer areia para esta praia, não sei de nada, claro. - Resmunga com desgosto no olhar.

    - Eu sei, trabalhas tanto a soprar o vento, como aquele que está a mover a água. Tudo para trazer areia a esta praia. Já agora, porque estás a fazer areia? - Perguntei num tom sarcástico.

    - Para ficar mais bonita, atrair mais gente, e ser mais confortável de se viver. Pelo menos enquanto estamos aqui presos.

Claro, não podia esperar mais de alguém assim, bateu com a cabeça tão forte que deve ter esfarelado o cérebro.

    - Ah. Então estás a tentar colocar a praia no padrão?

    - Não, isso não! Não vês que a areia é diferente das outras praias? Eu esforço muito para que a pedra mais dura se faça de manto neste local.

    - Ah… Sim, claro, deves ter esquecido o que ‘colocar no padrão’ significa, acho melhor reveres o teu dicionário mental. E, já agora, a praia sempre pediu por areia? Ela pediu para ser visitada por aqueles seres que só lhe fazem mal? Que fazem mal para a saúde dela e para a beleza que tanto tentam criar. Que bonito lar que criaste.

Felizmente eu não preciso de soprar mais forte, nem de mover àguas para fazer areia, na verdade eu não preciso de areia. Para seguir o meu caminho, em vez de ficar uma eternidade a acreditar que se bater forte na pedra e criar areia para viver até que o muro quebre, para que possa fugir deste local, eu vou só dar a volta para seguir em frente.

domingo, 31 de outubro de 2021

A Oração - Capítulo I: O Halloween em Crazytown

    O sol já tinha percorrido mais de meio caminho, e a cidade já estava iluminada com as luzes que durariam até ao amanhecer, pendurados encontravam-se os enfeites: decorações de todas as formas sinistras que se poderiam desenhar.

    A mão trabalhadora de todos os que participaram na decoração da cidade, deu atenção aos mínimos detalhes sem deixar nada para além do imperfeito, porque nesta noite, a perfeição chegou ao seu auge antes mesmo do sol ter-se aterrorizado com a escuridão que se aproximava, escondendo-se entre as colinas de uma floresta próxima.
    De jardim em jardim, porta em porta, a secção mais tenebrosa da paleta de cores cobria os olhos de quem por ali passava. Em Crazytown, uma cidade pequena na região, tem-se a tradição de fazer uma grande celebração entre a noite do dia 31 de Outubro e a madrugada do dia 1 de Novembro.
    As crianças, à noite, vão pedir “Doçura ou Travessura” até às 2h da manhã, porque, a partir desse horário, a verdadeira celebração começa. Uma enorme fogueira é construída nas montanhas opostas ao vale da floresta, danças e canções como orações aos guardiões dessa terra não podem faltar, e no fim, antes das 6h, antes do nascer sol, uma história é contada…
    Duas pequenas crianças, as quais nunca ninguém se recorda dos rostos, vagam nessa noite quente de ventos gelados, onde procuram por diversão. Como qualquer outra criança vão pedir "Doçura ou Travessura”, alguns entregam-lhes doces, outros apenas comida ou um objeto simbólico, mas ninguém se atreve a dar nada!
    Diz-se que todas as pessoas que tiveram algum acidente durante esta época, eram contra à tradição ou não teriam dado atenção ao Helloween. Alguns loucos, ou talvez não tão loucos, dizem que essas pessoas ofenderam os espíritos aterradores que protegem a cidade de outros animais perigosos, e não dar nada em seu respeito numa das datas mais importantes é como um ato suicida.

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