Como a cabeça bate em pedra, o vento bate em rocha, até que se esfarele em areia da mesma forma que a água faz.
Bate e bate, até que se molde, até que ao último sopro tudo se resolve. É assim que as coisas funcionam. Ao menos é o que acreditam.
- E então, aqueles que não batem com a cabeça em pedra, que não fazem o vento soprar forte, nem agitam a água para que tudo se molde, como é que eles fazem?
- Não fazem.
Balbucia um dos seres que faz o vento soprar até que se faça forma na massa mais dura e resistente da praia.
- Como tens tanta certeza? - Eu disse.
- É óbvio, não podes fazer nada da tua vida se não bateres na pedra. Simples. Como é que vais sair deste lugar sem o fazer?
Sim, por estar mais tempo do que eu nesta praia, acredita que a conhece melhor. Não entendem nada.
- Bom, se bateres com muita força na pedra tenho certeza que se não for isso a virar pó, tu vais, com certeza.
- Sim, porque tu sabes bem melhor do que eu. Eu que trabalho e sopro o vento tão forte o possível para conseguir trazer areia para esta praia, não sei de nada, claro. - Resmunga com desgosto no olhar.
- Eu sei, trabalhas tanto a soprar o vento, como aquele que está a mover a água. Tudo para trazer areia a esta praia. Já agora, porque estás a fazer areia? - Perguntei num tom sarcástico.
- Para ficar mais bonita, atrair mais gente, e ser mais confortável de se viver. Pelo menos enquanto estamos aqui presos.
Claro, não podia esperar mais de alguém assim, bateu com a cabeça tão forte que deve ter esfarelado o cérebro.
- Ah. Então estás a tentar colocar a praia no padrão?
- Não, isso não! Não vês que a areia é diferente das outras praias? Eu esforço muito para que a pedra mais dura se faça de manto neste local.
- Ah… Sim, claro, deves ter esquecido o que ‘colocar no padrão’ significa, acho melhor reveres o teu dicionário mental. E, já agora, a praia sempre pediu por areia? Ela pediu para ser visitada por aqueles seres que só lhe fazem mal? Que fazem mal para a saúde dela e para a beleza que tanto tentam criar. Que bonito lar que criaste.
Felizmente eu não preciso de soprar mais forte, nem de mover àguas para fazer areia, na verdade eu não preciso de areia. Para seguir o meu caminho, em vez de ficar uma eternidade a acreditar que se bater forte na pedra e criar areia para viver até que o muro quebre, para que possa fugir deste local, eu vou só dar a volta para seguir em frente.
É uma história um tanto reflexiva
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